quarta-feira, 17 de novembro de 2010

aceito «José & Pilar» na saúde e na doença

Basicamente, é o mais humano: a morte e a relação.
Apenas um retrato, claro está. De 200 horas de fita, sobraram duas. Mas tudo o que aparece neste filme faz um sentido tremendo.
E eu, o que ando para aqui a fazer?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

atira-me com esse livro à cara

Llámame mariachi desafiou porque não é todos os dias que se aguenta
1. um plano sequência com mais de vinte minutos filmado por uma bailarina a correr
2. uma coreografia em relanti (le ralenti désigne un mouvement plus lent qu'habituellement)
3. três mulheres demasiado atraentes
4. muitos livros
5. uma sucessão de leituras quando a caixa é dança
e, cereja no topo do bolo,
6. o francês como idioma de eleição (muitas vezes sem legendas)
Mas llámame mariachi vai apanhar-nos sempre no dia excepção em que tudo isto, para além de se aguentar, entusiasma (as pessoas que saíram da sala a meio estavam desviadas do nosso tempo). Porque é consistente, é novo e trabalha o essencial: as relações espaço-tempo com a acção a baralhar as coordenadas.
Thumbs up.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

we all go a little mad sometimes

Tudo começa quando se está em casa e surge a vontade de ir ver. Existe um certo risco, é verdade. Mas vai-se na mesma. E depois chega-se a um prédio com as paredes esventradas, 46 cadeiras, outras pessoas disponíveis. Numa outra divisão, um cinema. Os actores vêm de lá como se saíssem do filme. A mulher traz um casaco branco que preenche tudo. Cinquentona, tão bonita. Ele tem um ar frágil mas isso só se percebe depois. Por enquanto, é um detective (ou algo do género) com um chapéu de abas como o meu bisavô usava. Sobem para duas passadeiras: o objectivo não é o cardio fitness, é a tensão que cresce. O resto, é esperar que haja uma reposição, estar em casa, decidir sair e acertar na mouche.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

te quiero mucho

esqueci-me de dizer que fui lá para ver isto (amor)



mas dancei muito mais com isto (paixão)

A Gaivota, com prazer, Tchekhov

Moral: controle a sua ansiedade. Sim, são necessárias novas formas. "Aparências de pouco valem." Continuam a existir demasiados carrapitos loiros no alto das cabeças que deviam ser cortados à navalhada. De resto, foi bonito ver pessoas a arrastar cadeiras com os pés molhados.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

armário dos restos

(hoje, aqueci, no micro-ondas, o meu almoço de peixe-espada frito com arroz de tomate e cenoura. depois de comer, li o jornal enquanto não tinha trabalho. no P2 vinha um longo artigo sobre a única surrealista portuguesa e tive vontade de ir tomar um cafezinho com ela. quando cheguei a casa, quis ver se encontrava algum poema da mulher que rapava o cabelo em Lisboa. Usei o Google. O primeiro que me apareceu foi este e não é nada surrealista. Muito simples. Quase banal, até. Não fosse pela palavra restos e não o transcrevia.)

Tu já me arrumaste no armário dos restos
eu já te guardei na gaveta dos corpos perdidos
e das nossas memórias começamos a varrer
as pequenas gotas de felicidade
que já fomos.
Mas no tempo subjectivo
tu és ainda o meu relógio de vento
a minha máquina aceleradora de sangue
e por quanto tempo ainda
as minhas mãos serão para ti
o nocturno passeio do gato no telhado?
(Isabel Meyrelles)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Han Shot First @ Teatro Taborda

Inspiração Star Wars, efeitos especiais, Diogo Bento e Inês Vaz a prometerem ser eles próprios: eis os ingredientes de Han Shot First que esteve em reposição no Teatro Taborda este fim-de-semana. É coisa para nos deixar a barriguinha cheia: um enorme gozo (que apenas se torna cruel quando o nosso lado mongo dá sinal de si e diz, no meio das gargalhadas, 'cuidado, isto pode ser tudo muito sério')

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Agora Agora Agora Agora (como se piscasse num néon)

Apanhar o eléctrico 15 na direcção de Algés. Sair na última paragem e olhar em frente. É aí que se situa o CAMB onde está patente até 27 de Fevereiro a exposição Século XXI - Anos 10.
- Olha filho, é feito de cotonetes.
- Que nojo. e continua a brincar com um balão.
- Se fossem para ti é que já não estavam assim tão limpinhos, não. Com a merda que tu deitas das orelhas...


(discurso sobre Can you hear me de João Pedro Vale)

Em destaque, o trabalho de Gabriel Abrantes. Podem ver-se algumas pinturas, uns bonecos de trapos gigantes com ténis new balance e as curtas-metragens Olympia I e Olympia II onde se confunde erotismo, perversão e inocência.
"Vi numa revista da Vogue uma recriação de outra pintura do Manet e eu, ah isto fazia um filme porreiro"

- Vá, vem-te embora daí - diz a mesma mãe para o mesmo filho.